Descoberta de substâncias orgânicas em lua de Saturno pode aumentar chances de vida fora da Terra
Análises recentes de dados da missão Cassini revelam novas moléculas complexas em Encélado, reacendendo o interesse por uma missão dedicada da ESA
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01/10/2025 15h06 Atualizado há um dia
A busca por vida além da Terra ganhou um impulso significativo nesta quarta-feira (1°), graças à publicação de uma nova pesquisa na revista Nature Astronomy. Os pesquisadores responsáveis pelo projeto identificaram moléculas orgânicas sendo expelidas da superfície de Encélado, a sexta maior lua de Saturno. Isso indica que reações químicas altamente complexas ocorrem no oceano subterrâneo do satélite, aumentando as chances de que esse ambiente possa sustentar formas de vida.
Essas colunas de gelo e vapor que irrompem por fissuras no polo sul de Encélado já eram conhecidas desde a missão Cassini — conduzida pela Nasa, em colaboração com a Agência Espacial Europeia (ESA) e a Agência Espacial Italiana entre 2004 e 2017. Mas, agora, ao revisitar dados colhidos pelo Analisador de Poeira Cósmica (CDA) da sonda, os cientistas confirmaram algo inédito: os grãos de gelo expelidos do subsolo contêm ésteres, alcenos, éteres e compostos ricos em nitrogênio e oxigênio.
Segundo o cientista planetário Nozair Khawaja, da Universidade Livre de Berlim, na Alemanha, e autor principal do estudo, a presença dessas moléculas fornece uma amostra direta da composição do oceano escondido sob a crosta gelada. “Quando há complexidade, isso significa que o potencial habitável de Encélado está aumentando neste momento”, disse ao jornal The Guardian.
Grãos “frescos” do subsolo
O valor da descoberta também está na natureza do material analisado. Os grãos de gelo que compõem o anel E de Saturno — alimentado pelos jatos de Encélado — podem ter centenas de anos e ser alterados pela radiação espacial. Já os fragmentos revisados agora haviam sido ejetados apenas minutos antes de serem capturados pela Cassini, o que os torna uma amostra muito mais fiel daquilo que ocorre no interior da lua.
De acordo com comunicado publicado pela ESA, essas moléculas não só demonstram que reações químicas complexas estão em andamento, como também se assemelham a cadeias conhecidas na Terra. Por aqui, elas são capazes de originar compostos essenciais à vida, como precursores de aminoácidos.
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A partir desses resultados, os especialistas afirmam que todos os ingredientes necessários para a vida estão presentes em Encélado, como água líquida, energia e moléculas orgânicas complexas. Essa constatação reacendeu os planos da ESA de lançar uma missão exclusiva ao satélite por volta de 2042, com a previsão de orbitar a lua e pousar em sua região polar sul.
O cientista Nicolas Altobelli, do projeto Cassini na ESA, destacou que o fato de novas revelações surgirem quase duas décadas após a coleta dos dados mostra o alcance duradouro da missão. “É fantástico ver como ainda estamos aprendendo com a Cassini. Isso certamente orientará as futuras missões às luas geladas de Saturno e Júpiter”, disse, no comunicado da agência.
Expectativa e cautela
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Apesar do entusiasmo com a descoberta, os pesquisadores pedem prudência e cautela, já que a presença de moléculas orgânicas complexas não é, por si só, evidência de vida. Ainda assim, o impacto de uma futura missão será decisivo.
Para Khawaja, qualquer resultado será transformador: “Mesmo não encontrar vida em Encélado seria uma grande descoberta, porque levanta sérias questões sobre por que a vida não está presente em tal ambiente quando as condições certas estão lá.”
Fonte:https://revistagalileu.globo.com/ciencia/espaco/noticia/2025/10/descoberta-de-substancias-organicas-em-lua-de-saturno-pode-aumentar-chances-de-vida-fora-da-terra.ghtml
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